Você não está sozinho.

E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia umaexperiência parecida.

Odaice Formagge Santos

Psicóloga formada pela Universidade Metodista, com formação em Psicodrama. É Professional Coach e tem formação Internacional em PNL. Atua há mais de 20 anos na área clínica com atendimentos individuais e grupais a adolescentes, adultos e casais, psicoterapia breve e grupos tematizados. É consultora empresarial e utiliza metodologia psicodramática e role playing, para treinamentos comportamentais e processos de desenvolvimento de grupo. Odaice teve que encontrar formas de adaptar seus atendimentos e manter seus pacientes por perto. Trabalho fundamental neste período que cuidar da saúde mental se tornou ainda mais importante.  


- Qual foi o seu primeiro pensamento quando ouviu sobre Coronavírus? Você imaginou que tomaria tamanha proporção e que os impactos seriam mundiais?

Eu só comecei a dar atenção a essa notícia em janeiro quando retornei das férias, mas confesso que não dei tanta atenção, pois inicialmente parecia algo tão distante da gente e mesmo quando surgiu o primeiro caso no Brasil, olhei como mais uma doença. Confesso que jamais imaginei que seria possível tomar tamanha proporção. Mesmo ouvindo que devíamos evitar beijos, apertos de mão, eu não conseguia receber meus pacientes sem cumprimentá-los com abraço.

Hoje olho como algo muito sério, cumpro o distanciamento social e faço a quarentena. Estou em casa desde o dia 18 de março, saí poucas vezes, só quando foi realmente necessário.


- Como e quando você se sentiu impactado pela situação (direta ou indiretamente)?

Lembro perfeitamente daquela sexta feira 13 de março, como de costume, levava meu filho para a escola ouvindo as notícias no rádio, neste dia, não lembro exatamente o motivo, mas acredito que seja o aumento de casos, meu coração apertou e, diferente das outras vezes, ao chegar na academia troquei a música pela entrevista de um infectologista do hospital Emílio Ribas. Neste momento me dei conta que era muito sério tudo o que estava acontecendo, me assustei bastante. Naquele final de semana desmarquei aula e todos compromissos que tinha. Na semana seguinte, fui somente dois dias para o consultório e tomei a decisão de iniciar os atendimentos online.


- Como você se adaptou e reinventou sua profissão para enfrentar os dias de isolamento?

Eu já realizava alguns atendimentos online, então não foi tão difícil, mas como psicodramatista uso muito a ação, não fico só na fala, então tenho que usar muita criatividade, o que é positivo, nos faz descobrir várias possibilidades.


<p><span>Você não está sozinho.</span></p> E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia umaexperiência parecida.

- O cenário atual te gerou oportunidades? Quais?

Acredito que as oportunidades somos nós que fazemos, mas o cenário atual tem gerado muitas oportunidades para os psicólogos sim, mas confesso que eu não as tenho agarrado. Eu tenho muitas idéias e ainda pretendo colocá-las em prática, mas o atendimento online é bastante desgastante, muito mais do que o presencial e quando estou livre tenho optado por fazer coisas com a família ou ter o tempo livre para mim, cuidar de mim.


- De que forma você acredita que pode influenciar as pessoas a sua volta (e seguidores) a lidar com as mudanças que ocorreram nas últimas semanas?

Fazendo com que olhem para o aprendizado que este momento traz para si, para sua vida. Não me vejo como uma influenciadora, nem tenho tantos seguidores, mas poder voltar o olhar para si, para suas ações e comportamentos é o que tenho tentado levar para eles.


- O que mais te motiva na sua profissão?

A possibilidade de auxiliar no desenvolvimento emocional das pessoas, as descobertas e transformações.


- Qual a sua perspectiva de futuro frente ao cenário atual e em quanto tempo você acredita que será possível reestabelecer sua rotina?

Eu fico pensando que os atendimentos online tendem a continuar, facilita muito a vida de muitos e percebo que as pessoas têm gostado muito.

Não acredito que minha rotina se restabeleça tão rápido. Alguns dizem que a partir de setembro voltamos aos atendimentos presenciais, mas eu penso que voltarei somente com aqueles que não conseguem fazer online ou irei dividir sessões presenciais e online. Atendimentos seguidos da forma como fazia não será possível tão já. Enquanto não tivermos uma vacina ou uma segurança maior em relação ao tratamento, é muito arriscado retornar ao consultório da forma como era antes.


- Qual você acredita que seja a principal lição que podemos tirar de todo este contexto?

A importância das relações. Percebo o quanto as pessoas estão sentindo falta dos momentos de reunião com amigos, familiares, sentindo a falta daquele abraço e tudo que envolve os relacionamentos. Antes nos afastávamos das pessoas que amamos, escolhíamos nos relacionar através da telinha do celular. Agora que essas mesmas pessoas foram afastadas de nós, sentimos muita falta.

<p><span>Você não está sozinho.</span></p> E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia umaexperiência parecida.
<p><span>Você não está sozinho.</span></p> E alguém, em algum lugar, pensa como você e vivencia umaexperiência parecida.

- O que você acredita que mais mudou no comportamento das pessoas? Quais são as novas dores que este cenário criou? E como a sua demanda e processos de trabalho atendem a esta nova realidade?

Difícil responder isso, porque tenho que pensar tirando toda esta briga política que muitos estão se envolvendo. Tenho evitado algumas redes sociais porque esta guerra está tensa, tirando o foco do que é principal, salvar vidas!

Mas de forma geral, acredito que solidariedade entre as pessoas tenha aumentado. Restaurantes preparando comidas para distribuir à comunidade. Dentro dos condomínios as pessoas se unem para ajudar os idosos, evitar que eles saiam. São muitas as campanhas de solidariedade. Na psicologia muitos realizando plantões psicológicos sem cobrar. Revisão de dívidas, aluguéis que não estão sendo cobrados ou estão com valores reduzidos.

Muito antes do surgimento da Covid19, da pandemia e da quarentena, a OMS apontou o Brasil como o país mais ansioso do mundo, imagina como está agora. Com certeza a ansiedade gerada pelo medo, pela ameaça que nos colocou diante da finitude da vida, cresceu ainda mais e o processo terapêutico com certeza é essencial neste cenário.


- Você acredita que, de forma geral, a Educação Financeira poderia ter minimizado os impactos? E que esta é a grande oportunidade de conscientização da população?

Com certeza minimizaria, a educação financeira deveria ser matéria do currículo escolar. Acredito que a partir do momento em que os valores estão sendo revistos, a população tenha mais consciência de mundo, revendo o que realmente é importante para sua vida e sua sobrevivência. Os valores com certeza estão mudando!


- Quais você acredita que sejam as melhores alternativas para as pessoas manterem mentalmente saudável?

Se manter mentalmente saudável nesta época de pandemia, de quarentena é algo extremamente importante. É muito fácil entrar em crises de ansiedade ou em depressão. Existem algumas dicas que ajudam a evitar isso:

·  Se manter ativo, realize exercícios físicos sempre que possível

·  Procure ter disciplina na alimentação, mantendo horários e comendo adequadamente, é muito fácil nesta fase você sair da rotina e comer de forma desregulada

·  Procure manter contato com pessoas conhecidas, a tecnologia está aí a nosso favor.

·  Faça meditações, isso o ajudará olhar para dentro.

·  Evite excesso de informações e cuidado com as fake news, procure fontes confiáveis e atualize-se no máximo uma vez ao dia.

Se conseguir seguir com estas dicas, conseguirá passar por isso de forma mais leve.


- Quanto as pessoas que têm a saúde mental mais vulnerável, quais os melhores caminhos para lidar com a situação?

Eu diria que o melhor caminho é buscar ajuda psicológica, nem sempre é possível passar por tudo isso sozinho.


- No que diz respeito a saúde mental, o que você acredita que seja fundamental ser dito neste momento? O que ainda não foi falado e que é importante que as pessoas saibam?

As dicas que todos profissionais estão dando sobre a maneira de se cuidar, as que citei acima são extremamente importantes, mas penso que há algo que falo sempre com meus pacientes: “ok se não conseguir”. O que é isso? Percebo que muitas pessoas estão se cobrando por não conseguirem fazer exercícios físicos, por não terem conseguido arrumar o armário e muitas outras coisas. Porque a realidade de muitas pessoas é outra, estão em home Office, cuidando da casa e dos filhos e não sobra tempo para nada disso, mas como dizem que é importante querem fazer a qualquer custo ou choram e se cobram por não conseguirem. Então eu digo: “tá tudo bem, aproveite o momento de folga para fazer nada, isso você também merece”.


Contatos do entrevistado: 

@odaicepsi